A existência de Deus e o sofrimento humano
Quem pode dizer nesta terra que nunca sofreu? Acho que
ninguém. Tihamér Tóth, um bispo húngaro que escreveu muitos livros, sobretudo
para a juventude católica da Hungria, num de seus trabalhos, intitulado “ensinai
a todas as gentes”, no capítulo II comenta: “tanto se o homem viveu na barbárie
como no cume da civilização, nunca se secaram as suas lagrimas”. E esta é a
verdade, todos sofremos nesta vida, coisas grandes ou pequenas, mas sofremos. Ninguém
pode dizer que nunca chorou. Até mesmo as pessoas mais duronas sempre sofrem, mas
resistem, talvez. Não querem demonstrar a sua vulnerabilidade. Ante a dor, há
pessoas que são mais fortes, outras que são fracas.
Tihamér Tóth dizia também que “ser homem significa
sofrer”. Não estamos livres da dor, do sofrimento nesta terra. Lewis, a sua vez
diz: “se Deus existisse e fosse bom, faria tal e tal coisa, dizem os que não
creem. Ao contrário a Bíblia diz: para Deus nada é impossível”. E aqui entramos
na existência de Deus. Muitas pessoas vivem bem, estão acomodadas e não se
preocupam com nada. Mas quando provam a dor, então elas se revoltam contra
Deus: “por que Deus permitiu tal coisa comigo? O que foi que eu fiz?” e muitas
chegam a afirmar oque Lewis escreveu no seu livro “o problema da dor”. Se Deus
existisse, dizem muitas pessoas nestes momentos, se Deus fosse bom, não
permitiria o sofrimento.
Muitos materialistas e ateus não entendem o
sofrimento. As pessoas que creem em Deus, que relacionam o sofrimento com a
Cruz, estas sim entendem e sabem sofrer. Elas entendem, que para Deus nada é
impossível, como disse o Anjo a Maria na anunciação. Só Jesus nos pode fazer
realmente compreender o que significa sofrer. Ele foi considerado pela Escritura
o Homem das Dores. Quando relacionamos o nosso sofrimento ao sofrimento de
Cristo, então o nosso sofrimento ganha também sentido, e sabemos como sofrer. Sofrer
para materialistas e ateus é algo sem sentido. Muitas vezes chegam ao
desespero. Os cristãos entendem que seguir a Cristo implica levar a Cruz de
cada dia. Por isso dão sentido no que sofrem.
Um grande problema para muitas pessoas é a existência
do mal. “Se Deus existe, por que Ele permite tanta desgraça, por que Ele permite
que os inocentes sofram?” Santo Agostinho (430) e São Tomás de Aquino (1274) tentaram
responder a esta pergunta: “A existência do mal não se deve à falta de poder ou
de bondade em Deus; ao contrário, Ele só permite o mal porque é suficientemente
poderoso e bom para tirar do próprio mal o bem”.
Da nossa parte, cabe somente dizer que, se Deus, que é
pura bondade tivesse criado também o mal, estaria se contradizendo. Não seria
realmente Deus. A criatura é imperfeita, pois se Deus tivesse criado de igual
modo uma criatura perfeita, esta seria também deus. A filosofia nos ensina que o
mal é a carência de bem, ou seja, que o mal na verdade não existe, assim como a
doença é a carência do estado de saúde, o frio a falta de calor. As criaturas
usam mal as coisas que Deus criou boas, e estas coisas “boas” aos olhos de Deus
se tornam um mal para a criatura, e colocamos aqui um exemplo bem prático: a
droga. Ela pode servir para anestesia. E neste caso é algo bom. Mas pode também
viciar, e causar outras consequências desastrosas na vida das pessoas, como uma
dependência compulsiva, o roubo para adquirir mais dinheiro e comprar mais, a
violência, etc.
O homem não pode evitar o sofrimento, mas quando este
sofrimento vem iluminado por Cristo, então ganha sentido ao homem. Muitas
pessoas passam toda a vida tentando evitar sofrer. Mas isso é inevitável. Palavras,
gestos, modos de expressar-se, tudo pode ferir. De igual maneira, não sofremos
sozinhos, sempre encontramos bons Cirineus que nos ajudam no caminho, e
confortam o nosso sofrer.
As perguntas sempre seguem: por que existe o mal? Qual
o sentido do sofrimento? Por que Deus permite que os inocentes paguem? Por que
Deus permite o mal? Por que, por que, por que... o nosso objetivo não é
responder estas perguntas. Cada um deve buscar dentro de si as respostas. Mas sim
queremos analisar e refletir sobre o sentido do sofrimento.
O mal uso da nossa liberdade pode ser a causa do mal
também. E começamos pelo Gênesis. O que aconteceu lá? Deus disse a Adão e Eva
que eles poderiam comer de todas as árvores do paraíso, exceto da árvore do conhecimento
do bem e do mal. E o que fizeram os nossos primeiros pais? Se deixaram seduzir.
Eles eram completamente livres. Deus os colocou à prova. Eles usaram mal a sua
liberdade. E qual foi a consequência de isso? A expulsão do paraíso. Sempre que
utilizamos mal a nossa liberdade, temos que ser responsáveis e arcar com as
consequências, como diz o dito popular.
Se lemos com atenção as cartas de São Paulo, lá
encontraremos algo também muito interessante: São Paulo vê o verdadeiro mal no
mundo o pecado. É pela nossa desobediência a Deus que sofremos. O pecado, é,
pois, o verdadeiro motivo do sofrimento humano. A nossa rebelião contra Deus. Deus
não quer o sofrimento, não quer o mal do homem, mas pode permitir para um bem maior.
E sobre este tema, requeremos uma maior atenção.
Tihamér Tóth, no mesmo escrito que já citamos acima
diz que “o sofrimento acera o caráter, coloca à prova a força de vontade,
corrige as aberrações morais, purifica a concepção ética”, e também que “o
sofrimento é um meio para merecer a felicidade da vida futura”. Deus, por meio
do sofrimento quer ensinar-nos algo, quer mostrar-nos algo. Quer fortalecer-nos.
Jó sofreu uma prova muito grande. Deus o purificou por meio do sofrimento, mas
Jó saiu fortalecido e beneficiado por Deus. Apesar de toda a dor que sentiu,
perdendo tudo oque possuía, perdendo até mesmo a família, sofrendo na própria
carne. E o que Jó dizia? “De Deus recebi, Deus tomou de novo. Bendito seja o
nome do Senhor”. Isso é ter fé diante do sofrimento.
E voltamos agora à Cruz. O sofrimento pode ser também
uma prova de amor. Por que Cristo sofreu tudo aquilo na Cruz? Se não foi por
amor, por que então? Ele se sentiu abandonado pelo Pai, ninguém sofreu mais que
Ele. E Ele, como muitos era inocente, não era culpado de nada. Viveu fazendo o bem,
e teve que sofrer na própria carne as consequências dos pecados de todos os
homens. Há coisas neste mundo que nunca lograremos do todo entender. Mas esta
vida não é tudo. Tihamér Tóth dizia que: “o homem não é dono absoluto da sua
vida. Ele a recebeu das mãos de Deus, por isso somente Deus pode dizer: eu
mato, e dou a vida; eu machuco e curo”. Ele falava especificamente aqui a
propósito da eutanásia. Mas no tema da dor e do sofrimento, muitas pessoas, que
não encontram um sentido para isso, acabam se suicidando.
São Paulo disse que “os sofrimentos da vida presente
não são nada em comparação com a glória que há de vir”. E essa é a esperança de
todo cristão: sabemos que este mundo não é tudo, que um dia já não sofreremos.
E se cumprirá o que está escrito no apocalipse: Deus enxugará todas as
lágrimas. A nossa esperança está colocada no Senhor, que sofreu por nós e nos prometeu
preparar uma morada. Sofremos agora, para depois gozar das delícias da
eternidade, junto com Deus. “Se sofremos com Cristo, viveremos com Ele”.
Para concluir, compartilhamos uma bonita história. Você
conhece a oração da Salve Regina?Em português, Salve Rainha. Pois bem,
quem escreveu e inventou o canto gregoriano com a Salve foi um monge chamado
Hermano Contracto. Ele viveu no período do Sacro Império Romano-Germânico. Nascendo
raquítico e com muitas deformações, os pais logo logo o deixaram ao cuidado de
monges beneditinos, com quem cresceu, foi educado e instruído. Se fosse hoje, poderíamos
dizer que ele teria chegado à vida? Talvez fosse antes abortado. Mas Deus tinha
outros planos para ele.
Dizem que sentia dores horríveis, e se movia com muita
dificuldade. No meio das suas dores, e contemplando também a dor dos homens ao
seu entorno, pois, em 1050, datas nas quais escreveu a Salve, a Europa passava
por uma serie de calamidades naturais, de epidemias e de miséria, que o fez escrever
esta belíssima oração, misturando dor e esperança. E depois deste desterro
mostrai-nos Jesus, terminava a oração. Essa é a nossa esperança. Sofremos aqui,
para depois gozar das alegrias do céu.
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